CINE DEMA(I)S
Impressões, comentários e conversas sobre filmes
setembro 15, 2014
A PEDRA DE PACIÊNCIA
setembro 12, 2008
"Olho de boi"
“Olho de boi” é um filme curto (72 minutos apenas), com elenco pequeno e pouquíssimos cenários. No entanto, as palavras são infinitas, os diálogos ininterruptos, as emoções crescentes e o resultado grandioso. É quase teatro. Os conflitos que vão atiçando os ânimos daqueles sertanejos acabam revelando-se mais intrigantes do que o desfecho daquela longa noite de espera. Sem falar que, aqui e ali (e por isso há que se assistir ao filme atento a todos os detalhes), são lançadas pistas sobre o que está por acontecer. Como na cena em que Cirineu é instigado pelo padrinho a falar alguma coisa para a imagem do Cristo com os olhos raspados que jaz na casa de Deus que lhes serve de abrigo . Suas (poucas) palavras têm endereço mais específico do que se imagina então. O fato é que, como o boi do início do filme, aqueles dois homens seguem resolutos no seu caminho de desvario e vingança. Ainda que em alguns momentos, as incertezas e a proximidade da morte queiram esfriar os ânimos, eles vão até o fim. Porque se a cruz que Modesto tem de carregar até o alvorecer é pesada, como confirmam seus lamentos, ela também é do afilhado, que está ali - como o Cirineu bíblico - para ajudar a levá-la. setembro 05, 2008
"Encarnação do demônio"
Talvez o terror de Mojica não choque nem meta medo como fazia antigamente. Sem querer fazer comparações, mas as cenas com insetos e pessoas penduradas por ganchos presos à pele já foram repetidas à exaustão em longas recentes como “Jogos mortais (I, II, III e IV)” e “O massacre da serra elétrica”. No entanto, há outros momentos em “Encarnação...” que atestam a vitalidade do diretor, como aquela cena no purgatório, com a participação para lá de especial do teatrólogo Zé Celso Martinez Corrêa. Ou ainda a das vítimas (em preto-e-branco) que voltam para atormentar a mente do Zé do Caixão: além do contraste com o vermelho vivo que escorre em tantos enquadramentos, a presença desses personagens são uma espécie de reverência à trajetória do diretor. Sem dúvida alguma, uma sacada de mestre. agosto 29, 2008
"Quando estou amando"
Alain Morreau (Depardieu) é um famoso cantor de bailes, muito conhecido nas casas de shows do interior da França, freqüentadas por velhos corações solitários. Apesar disso, a carreira está em curva descendente, tanto que a presença de jovens nos salões é festejada como sinal de renovação. E é exatamente a visão da deslumbrante Marion (De France) que vai sacudir a vida dele, mais pessoal do que profissionalmente falando. Ela está ali acompanhando o chefe e amigo Bruno (Mathieu Amalric, de “O escafandro e a borboleta”). Encantado por Marion, o cantor parte para a conquista. Resistente a princípio, a jovem acaba descobrindo no velho astro da música francesa, um companheiro para as desilusões e amarguras que ela vem vivendo. agosto 22, 2008
"Lemon tree"
O eterno conflito entre israelenses e palestinos já rendeu filmes fortes e tocantes, como o documentário “Promessas de um mundo novo”, de 2001, em que o assunto é tratado a partir do ponto de vista de sete crianças. Ou “Paradise now”, de 2005, com dois homens-bombas sendo questionados sobre os significados e conseqüências de um novo atentado suicida. “Lemon tree” discute a questão novamente, dessa vez a partir de um incidente inusitado (baseado em fato real) e sob a perspectiva feminina. 

agosto 15, 2008
"Era uma vez..."

agosto 08, 2008
"As aventuras de Molière"
Mas o sucesso de “As aventuras de Molière” merece um crédito especial: o roteiro de Laurent Tirard e Grégoire Vigneron é primoroso, com diálogos inteligentes, espirituosos e ágeis. Dessa forma, tudo o que vemos é relevante e não dá para tirar os olhos da tela sem correr o risco de perder uma ótima piada, como na cena em que Molière zomba das relações burguesas, imitando os trejeitos do seu fidalgo credor ao ser ludibriado por um membro da nobreza parisiense. E olha que os roteiristas ainda encontraram espaço para subtramas envolvendo amores adolescentes, casamentos arranjados, paixões proibidas, dilemas morais e morte, tudo conduzido com propriedade pela belíssima trilha sonora de Frédéric Talgorn.
Por falar em paixão, não posso terminar esse texto sem dar a devida atenção à caracterização de Laura Morante para Elmire Jourdain. Desde sua primeira aparição, é possível perceber a mistura de sensibilidade, força, inteligência e sensualidade daquela mulher. Ela é a antítese do marido e a musa do escritor incipiente. A admiração que se instala entre eles já na primeira parte do longa é responsável por um momento memorável: a montagem paralela das confissões dos dois diante de um espelho. Uma saída brilhante para viabilizar uma situação impensável devido às posições sociais tão díspares do casal. Ou seria aquela película refletora uma janela para os sonhos que (quase) nunca se realizam?
agosto 04, 2008
"Do outro lado"
Ao apontar suas lentes para esses sentimentos, o diretor nos entrega um filme comovente, apresentando tipos duros e cruéis sob determinados pontos de vista, mas que nunca são inflexíveis. Assim, é curioso ver como os acontecimentos vão mexendo com seus valores, provocando uma reação que faz abrir os olhos, rever atitudes e resgatar uma essência que parecia perdida. A câmera próxima ao rosto e ao olhar dos atores contribui para que o público enxergue as verdades que estão sendo reveladas e acredite nelas. E é isso o que importa no filme de Akin: as revoluções interiores têm muito mais relevância do que os acontecimentos externos. Prova disso é que dois segmentos do filme ganham títulos que anunciam a morte de personagens que ainda serão apresentados. Anti-clímax? De jeito nenhum. O espectador sabe que a tragédia anunciada irá explodir muitas convicções e provocar mudanças importantes. Três filmes e seis pequenas histórias
julho 18, 2008
"O escafandro e a borboleta"
No início da projeção, vemos as imagens a partir do ponto de vista (monocular) do paciente, que acaba de sair de um coma. Esse recurso permite que a fotografia de Janusz Kaminski brinque com texturas e cores, explorando ambientes e rostos fora de foco, em enquadramentos “imperfeitos” e inusitados. É interessante a maneira como os coadjuvantes tiveram que atuar, com a cara praticamente colada na lente da câmera, posição imprescindível para interagir com o olhar de Jean-Do. julho 15, 2008
"Desejo proibido"
julho 13, 2008
"Sex and the city - O filme"
"Homem de Ferro"
(Iron Man, 2008 - Jon Favreau) julho 11, 2008
"Wall-E"
Enquanto recolhe e compacta os entulhos, ele separa objetos que lhe parecem úteis ou trazem lúdicas lembranças, como isqueiros, lâmpadas, brinquedos, peças eletrônicas, etc. Mora numa espécie de conteiner, tem uma baratinha como amiga e adora assistir ao vídeo do musical “Alô, Dolly”, de 1969, com Barbra Streisand e Walter Matthau. É, o robozinho é de uma sensibilidade que vai divertir a criançada e encantar os marmanjos. E é essa sua rotina... até o dia em que uma nave pousa na cidade e deixa um moderníssimo robô-fêmea (Eva) com a missão de rastrear aquela região em busca de vida. Desconfiada e temperamental, ela vai cair nas graças de Wall-E. Juntos, eles irão protagonizar uma história de aventura, amor e descobertas que transformará a vida na Terra.
E o longa do diretor Andrew Stanton (o mesmo de “Procurando Nemo”) segue surpreendendo. É só ficar atento aos detalhes. Quando Wall-E assiste a “Alô, Dolly” pela primeira vez, o colorido do musical constrata com a monocromia do cenário daquele mundo desolado, onde predominam os tons terrosos do pó e da ferrugem. Já na astronvae onde “vegetam” os humanos, o set ilumina-se com as cores artificiais de uma existência fabricada. A trilha sonora - que conta com a participação do politicamente correto Peter Gabriel, compositor e intérprete da bela “Down to Earth” que encerra o desenho - também sinaliza que estamos diante de um produto diferente e diferenciado. Ao invés das costumeiras melodiazinhas melosas, ouvimos “La vie en rose” na voz de Louis Armstrong; duas ou três canções do já citado “Alô, Dolly”; e “Assim falou Zaratustra”, de Richard Strauss, em mais uma referência a “2001 – Uma odisséia no espaço”, sendo o robô que tenta controlar a Axioma a mais evidente delas. Por sua vez, as vozes de Wall-E e Eva remetem ao R2-D2 de “Guerra nas estrelas”. Quando o corpo pesa, a mente voa
Já imaginou um bom vivant, cercado de badalações e belas mulheres que, de uma hora para a outra, descobre-se com uma paralisia que só lhe permite mexer um olho? Complicado, não é? E se eu lhe disser que essa pessoa é real e ainda encontrou motivos para rir? Não acredita? Pois assista logo ao filme do Julian Schnabel que está em cartaz nos melhores cinemas do Brasil e você vai ver como a memória e a imaginação fizeram um escafandrista voar. Se quiser saber um pouquinho mais, clique aqui.julho 04, 2008
O brilhante fim-dos-tempos da Pixar
Depois da recente e polêmica produção do diretor indiano M. Night Shyamalan ter abordado uma reação de auto-proteção da natureza para salvar o planeta da ação predatória do homem, eis que chegou às telas brasileiras, na semana passada, um outro longa que toca no assunto. É "Wall-E", a nova animação da Pixar, que faz referências a clássicos como “E.T”, “Guerra nas Estrelas” e “2001 - Uma odisséia no espaço” e já nasce com cara de clássico. Leia mais aqui."1958 - O ano em que o mundo descobriu o Brasil"

junho 27, 2008
"Fim dos tempos"
E sabe qual é o problema que ele enfrenta? Estão levando a sério demais uma proposta de entretenimento de Shyamalan. Isso mesmo: “Fim dos tempos” é para ser curtido como um bom suspense e ponto. Não quer discutir teorias, mostrar efeitos especiais mirabolantes, nem apresentar nada incrivelmente novo. É diversão para quem se dispuser a entrar na brincadeira. De que outra maneira encarar o pretenso herói (o professor de Ciências) que - ao invés de investigar um fenômeno extraordinário - opta for fugir e, ainda por cima, conversar com as plantas? Justo ele que, em sala de aula, instiga os alunos a buscar respostas para estranhas ocorrências da natureza! E o que dizer de situações patéticas como a da esposa que esconde do marido a “grande traição” de ter tomado uma sobremesa com um colega de trabalho e ainda faz citação à perseguição psicótica da personagem de Glenn Close em “Atração fatal”? É tudo propositalmente bobo, às vezes fora mesmo do contexto de um suspense/terror. Mas vamos à história.
Estrelado por Mark Wahlberg (“Os donos da noite” e “Os infiltrados”), que interpreta o tal professor, o filme está centrado num estranho acontecimento: contaminados por uma toxina que destrói neurotransmissores relacionados ao instinto de sobrevivência, cidadãos norte-americanos passam a protagonizar um suicídio coletivo. Parece absurdo? Há um personagem que ratifica essa impressão ao dizer que achava que já tinha visto de tudo nesse mundo (olha o Shyamalan desbancando a seriedade outra vez). Como não poderia deixar de ser, terrorismo e armas químicas são as primeiras suspeitas. Mas a proporção descomunal com que o ataque é executado leva a outra hipótese. A tal substância venenosa estaria vindo das plantas, em resposta à depredação contínua e crescente do meio ambiente, numa espécie de mecanismo de proteção ao planeta, que elimina quem coloca o equilíbrio dos ecossistemas em risco. É uma premissa curiosa e instigante. E gera cenas incríveis que - se não chegam a causar pânico - provocam grande desconforto e atestam que a criatividade do diretor segue em alta: os corpos caindo do edifício e as mortes no asfalto em "efeito dominó" são dois exemplos emblemáticos. Na verdade, o ponto de partida da história é tão genial que bastam alguns minutos para que o público esteja completamente envolvido.
Bem no início de “Fim dos tempos”, enquanto a série de suicídios está ocorrendo, Elliot discute com seus alunos o desaparecimento da população de abelhas. A dedução de um dos pupilos é curiosa: os cientistas encontrarão uma resposta, mas daí a provar que ela é 100% pertinente já é outra história. Pois é esse caminho que os próximos 80 minutos de projeção irão trilhar. Shyamalan quer seduzir a platéia sem se preocupar em desvendar o mistério. Assim, vão sendo derrubadas todas as possibilidades de entendimento do fenômeno suicida, como aquela de que o ataque se daria somente onde existisse um grande número de pessoas. Destruído esse raciocínio, o suspense aparece até mesmo quando uma criança se diverte no balanço amarrado a um galho de árvore. É inevitável não esperar pelo instante em que a inocente brincadeira poderá despertar a ira da natureza.
Já nos momentos finais, quando parece não existir mais lugar seguro para se proteger, entra em cena uma senhora que vive isolada, morando sozinha, sem energia elétrica ou qualquer indício de comunicação. É nesse derradeiro oásis de proteção que a última certeza sobre a ação da misteriosa toxina será desmantelada, restando ao espectador render-se às seqüências de medo criadas dentro das quatro paredes daquela casa “quase” assombrada. E me parece ser apenas isso o que Shyamalan deseja com seu “Fim dos tempos”: criar tensão e, se possível, garantir alguns sustos, sem maiores comparações com o grande mestre que ele segue homenageando. E por falar nisso, dessa vez, sua participação hitchcockiana é apenas com a voz. Fique atento.
junho 25, 2008
" A enguia"
junho 20, 2008
Quem tem medo do Shyamalan?
"O Signo da Cidade"
Escrito e estrelado por Bruna Lombardi (cada vez mais bela) e dirigido por Carlos Alberto Riccelli, o filme é um instigante drama sobre os altos e baixos de um grupo de pessoas que - por um motivo ou outro - tem seus destinos entrelaçados. Ao se cruzarem, essas tantas vidas vão tecendo uma extensa malha de pequenas solidões, frustrações e angústias, representadas por separações, suicídio, dificuldades financeiras, doença, depressão, preconceito, aborto, traições, conflitos familiares e mais uma infinidade de desventuras.
Por tudo isso, fica evidente que o clima de “O Signo da Cidade” é pesado (e é mesmo!). E muitos elementos colaboram para passar essa idéia de sufoco e desespero: a fotografia com pouca luz em inúmeras cenas; o desconforto dos pequenos espaços (estúdio da rádio, camarim da casa de shows, quarto de hotel imundo, sala entulhada de objetos, etc); a câmera que (quase nunca) se distancia dos atores; as locações escuras dos becos e ruas... No entanto, em função da premissa que norteou o roteiro, de que todas as coisas estão interligadas e nada acontece por acaso, os momentos de solidariedade e transformação vão ganhando mais destaque à medida que o final se aproxima, convertendo-se numa aposta otimista dos seus realizadores diante da realidade cruel, individualista e cinzenta que segue reinando no iluminado século XXI.
O elenco - que mistura nomes conhecidos (Bruna Lombardi, Eva Wilma, Ana Rosa, Juca de Oliveira, Denise Fraga, Malvino Salvador, Graziella Moretto, Fernando Alves Pinto, Luís Miranda) a jovens talentos - é muito feliz ao abraçar com igual interesse as virtudes e imperfeições dos seus personagens. O fato de não serem totalmente bons ou maus, certos ou errados, confiantes ou inseguros auxilia na idenficação, fazendo com que o público se veja em muitas daquelas situações. E isso é um mérito inconstestável do filme, talvez o que mais contribua para render os elogios que vem recebendo de crítica e público.
junho 19, 2008
Liga escolhe os melhores dos anos 2000

No topo da minha lista: Manoel de Oliveira com "Um filme falado"
Confira abaixo os meus 20 indicados. Em vermelho, a posição que o filme conquistou no resultado final. O traço (-) significa que o longa ficou de fora na opinião dos votantes.
1. Um filme falado / Manoel de Oliveira (13)
2. Amor à flor da pele / Wong Kar-Wai (9)
3. Ninguém pode saber / Hirokazu Kore-eda (-)
4. Tudo ou nada / Mike Leigh (-)
5. O segredo de Brokeback Mountain / Ang Lee (22)
6. Cidade dos sonhos / David Lynch (1)
7. Antes do pôr-do-sol / Richard Linklater (3)
8. Promessas de um novo mundo / Bolado, Goldberg e Shapiro (-)
9. Brilho eterno de uma mente sem lembranças / M. Gondry (25)
10. Lady Chatterley / Pascale Ferran (38)
11. Dolls / Takeshi Kitano (35)
12. Elefante / Gus van Sant (2)
13. Caché / Michael Haneke (8)
14. Dogville / Lars von Trier (18)
15. Não estou lá / Todd Haynes (12)
16. Estamos bem mesmo sem você / Kim Rossi Stuart (-)
17. Moulin Rouge! / Baz Luhrmann (-)
18. Medos privados em lugares públicos / Alain Resnais (28)
19. Kill Bill: vol.1 / Quentin Tarantino (5)
20. Menina de ouro / Clint Eastwood (23)
junho 12, 2008
"Longe dela"
Grant (Gordon Pinsent) e Fiona (Julie Christie) estão juntos há mais de 40 anos. Esse relacionamento - que já passou por várias intempéries - enfrenta agora um inimigo cruel: o esquecimento. Ela está com a doença de Alzheimer e os sintomas começam a se acentuar, o que leva o casal a tomar a decisão de interná-la. Mas uma norma da clínica vai acelerar o inevitável: o paciente não pode receber visitas durante os 30 primeiros dias. Quando Grant retorna, Fiona já não o reconhece. Para piorar as coisas, ele percebe o interesse dela por um outro interno. E enquanto a esposa vai perdendo todas as lembranças, o marido se agarra a cada uma delas para continuar vivendo e lutando.
“Longe dela” é um filme de emoções fortes, construído em cima de uma montagem que vai e vem no tempo para revelar verdades, segredos, angústias e esperanças. Começa com Grant indo até a casa de Marian (Olympia Dukakis), cujo esposo Aubrey (Michael Murphy) é o objeto da paixão de Fiona. O motivo daquela visita é apenas uma mostra do que ele é capaz de fazer para proteger a amada. A partir dali, presente e passado se revezam para construir esse drama encantadoramente triste, baseado em um conto da canadense Alice Munro e adaptado pela própria diretora. Aliás, Sarah Polley - conhecida por suas atuações em “A vida secreta das palavras”, “Minha vida sem mim” e “O doce amanhã” - surpreende nesse primeiro trabalho atrás das câmeras pela profundidade e delicadeza com que mergulha em temas tão densos: na época das filmagens, ela tinha apenas 26 anos.
Julie Christie levou o Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar por seu desempenho cheio de sutilezas ao retratar a montanha-russa de sentimentos de Fiona. No entanto, Grant também é uma grande criação do ator Gordon Pinsent, num contra-peso perfeito à atuação da colega. Não falar da interpretação contida e, ainda assim, tão eloqüente de Michael Murphy seria injusto: apesar de Aubrey não pronunciar sequer uma palavra, seu olhar passa toda a carência, dependência e vazio que o personagem está sentindo.
Portanto, é seguro e coerente afirmar que a escolha do elenco foi o grande acerto para o sucesso de “Longe dela”. Pinsent e Christie constroem seus personagens com tanta verdade que, em pouco tempo de projeção, o público já se torna cúmplice (ou seria refém?) daquele sonho de reconquista e recomeço. E olha que a história não dá colher de chá. Ainda que algumas situações arranquem risos, o foco está na resignação, no arrependimento e na dor.
Prova disso é a bela cena em que Grant lê para Fiona os poemas de “Cartas da Islândia”, referência à terra natal da esposa. O título do livro já deixa claro que a tentativa de resgatar lembranças é vã. Islândia significa “Terra do gelo”. Ao pé da letra, é como se tudo que viesse de lá pertencesse ao frio, ao passo que a batalha em questão é pelo calor da paixão e o aconchego das recordações. Para encerrar o longa com chave de ouro, a canção “Helpless” - belíssima versão de k.d. lang para a composição de Neil Young - entra com os créditos finais, traduzindo com perfeição a melancolia e o desamparo que rondam todas as cenas do filme.














